Conversa que ouvi de instrutores de musculação (conhece ser mais médio que professor de educação física?):
-Hoje de manhã aquela coroa que malha todo dia tava fazendo o exercício ao contrário.
-Como assim?
-Em vez de fazer o movimento com a perna pra frente, ela tava fazendo pra trás. E como fica sem peso, ela tava achando que tava abafando. Quando avisei, ela levou um susto, e disse que nem tinha percebido.
-Acontece...lembra daquela propaganda que tinha um cara que só andava pra trás?
-Da Vivo né...
-É, ele só andou pra frente quando viu um celular, hahaha.
-Tinha uma outra, de um cara de que só andava em círculos...
-Devem ter sido feitas pela mesma agência de publicidade.
Papo morre, risos continuam.
Tinha tempo, no mínimo un três anos, que eu não presenciava pessoas 'normais' falando sobre propaganda. E olha que comerciais já foram assunto popular e até colocaram bordões na boca do povo, como o "bonita camisa, Fernandinho" e "não é assim uma Brastemp", por exemplo.
Pela saída da propaganda do dia-a-dia, da boca e da cabeça das pessoas, eu
culpo a onda surreal, a maneira dita como moderna de criar e produzir comerciais, anúncios, banners e etc. Eu acuso os que acharam que seria legal fazer títulos abstratos, como "escute seu corpo" e "hello, moto". Não é à toa que a Motorola está afundando, e a
Nokia, com seu "Connecting People", é a marca mais sólida de celulares.
Claro que a qualidade do produto também é importante. Não adianta a
Kaiser fazer uma campanha genial e continuar vendendo aquela droga de cerveja, mas enfim, voltemos ao foco e às rodas de conversa.
Engraçado, também nunca vi ninguém comentando que entrou em um
hotsite lindo e interativo, ou que se divertiu a manhã toda com um
advergame, mesmo que não saiba o que é um advergame. Também nunca vi pessoas 'não publicitárias' criticarem ou elogiarem a reformulação de um site.
A internet é legal e cada vez mais necessária, mas não tem o poder que a televisão tinha (quando as propagandas eram boas) de levar as coisas ao mundo real, de colocar um produto nas conversas de bar. As pessoas até mandam brincadeiras virtuais para os amigos, pequenas
sacanagens com fotos, mas tudo fica preso nos e-mails, nas mensagens instantâneas.
Certo, talvez funcione, talvez alguém se lembre, no meio do supermercado, que se divertiu durante 3 segundos com o banner expansível daquele yogurte que está ali na sua frente. Talvez aquilo tenha agregado valor à marca. E é isso que uma propaganda razoável sempre fez, seja na TV, no rádio, no outdoor ou no folder enfiado no seu carro pela fresta da janela. Acontece que na publicidade contemporânea, abstrata e surreal, ninguém faz mais que o feijão com arroz, ninguém consegue jogar um ovo frito em cima.
Como diziam, desde a Alemanha nacional-socialista (leia-se Nazista), a propaganda deve ser compreendida facilmente pelo mais estúpido dos seres, e não é criando sites que levam mais de 10 segundos pra carregar e comerciais complexos, sem drama ou humor, que vamos conseguir fazer isso. Estamos marchando com nossas bandeiras para o
precipício. O dia em que, liderados por mentes surreias, caírmos no vazio total, os cliente vão perceber que estavam sendo enganados, que as músicas high-tech e imagens amareladas nos comerciais que eles compravam não significavam nada. E desse dia em diante, links patrocinados
tomarão conta da internet e das mídias convencionais.
Pare de se inspirar nos grandes, eles já estão perto de cair.
No dia em que eu presenciar um cidadão que não sabe de onde vem a sigla
DPZ, comentando com outro que não faz idéia do que é
AlmapBBDO, sobre o quanto é legal o comercial do Peugeot 207 com bateristas dentro de um casulo vermelho, eu deleto esse post, esse blog, e a palvra propaganda da minha mente média.