segunda-feira, 9 de agosto de 2010

103 14. Uma chamada para o inferno. #oi?

Lembram do dia que a Oi comprou a Brasil Telecom? Eu não, mas esse fato daria origem a uma das maiores dores de cabeça da minha vida.

Há quase 4 anos vivendo em Brasília, sempre tivemos telefone e internet da Brasil Telecom. Como nada é perfeito, a conexão muitas vezes caía, ficava lenta, mas eles chegavam lá e consertavam. Era relativamente fácil falar com eles e a equipe de instalação, reparos e etc era eficaz.

Eis que mudamos de apartamento e começou a MALDITA NOVELA DA OI. Não reparem se eu utilizar vocabulário de telemarketing, mas falei tanto com eles que acabei incorporando. Vamos aos fatos:

Liguei no 103 14 e solicitei a mudança de endereço. Disseram que era preciso migrar para o plano da Oi, já que o meu ainda era Brasil Telecom. Mesmo preço, mesmo velocidade, mesmos minutos ao telefone. Legal.

Aguardei o prazo de 7 dias, se não me engano, para efetuarem toda a troca. Ou seja, instalarem tudo no endereço novo.

Se passam 3 dias, e uma dupla de adolescentes chega para instalar o telefone. Pergunto pela internet, e eles não sabem de nada. Ok, furadeira, chave de fenda e sujeira pra todo lado, está instalado o telefone. Avisam que está com um número provisório, até que o sistema ou sei lá quem "migre" o nosso número. Isso levaria uns três dias.

Ligo mais uma vez no 103 14, dessa vez para saber da internet. Disseram que estava dentro do prazo, e quem em 2 dias úteis eu estaria de volta à grande rede. Paciente, aguardo 4 dias. Nada!

Torno a ligar no 103 14. A essa altura, minha pressão já sobe ao escutar aquelas malditas gravações que tentam passar à empresa um ar de fofura e paciência. E haja paciência! Me informam que não havia sido feito pedido algum de mudança. Pergunto como então o telefone já estava semi-instalado. Eles não sabem. Peço para me devolverem meu número de telefone e instalarem a internet. Novo prazo de 7 dias.

Se passam 9 dias e nada. Ligo mais um vez no submundo do call-center da Oi, teclando 103 14. Depois de meia hora aguardando o operador "procurar no sistema", a ligação cai. Tento de novo. No meio do processo, minha bateria acaba. Tento no dia seguinte. Após 40 minutos esperando a operadora X vasculhar o tal sistema*, ouço que houve um conflito e minhas solicitações estão em outro departamento, e precisam ser liberadas de lá para serem encaminhadas à empresa terceirizada que realiza a mudança de endereço. Em 3 dias me retornariam para confirmar.

Você está aí somando, e notou que até agora se passaram entre 20 e 30 dias. Se esperar isso já é irritante, imagine sem internet e sem trabalhar! É como se, num universo paralelo, cada minuto demorasse três dias para passar. Continuemos:

Prazo estourado, ligo 103 14. Me dão no prazo de 7 dias. Mais infinitos 7 dias sem internet e com um telefone provisório sentimental, que só liga pra certos números e nenhum celular. E claro, não recebe, afinal ninguém sabe o número. Peço urgência, cito o desespero, peço urgência de novo. Acuso o sistema deles, elogio os tempos de Brasil Telecom, afirmo que não existe equipe de instalação.

-O sistema é ótimo senhor. Aguarde 7 dias.

Espero os 7 dias e calmamente pego o telefone e digito: 103 14. Ouço toda aquela lenga-lenga, converso meigamente com o operador X. Peço o cancelamento. Me passam a um departamento superior. Atende um sujeito de voz grave, com um bom treinamento persuasivo. Quase me convence a esperar mais 7 dias, mas sou firme:

-Cancela!

Ele efetua o cancelamento e agradece. Cismado por ser tratado como um pedaço de merda, peço pra ele repetir aquilo. Ele repete, e diz que naquele momento o contrato já estava cancelado e que em 3 dias uma equipe viria desligar o telefone provisório.

Pensei: "pra instalar pedem 7 dias, pra desligar pedem 3??" Aquilo estava estranho. No dia seguinte, ligo e, para meu deleite adivinhatório, não constava pedido nenhum de cancelamento. Cancelo de novo, confirmo de novo.

No dia seguinte ligo pra confirmar, e, para minha surpresa, estava mesmo cancelado.

Foi como ter me livrado de um encosto. Ombros leves, ligo na GVT. Falo direto com um ser humano e marco a instalação. Pacote com internet e telefone pelo mesmo preço da Oi, mas com uma conexão 5 vezes mais rápida. Me dão 3 dias úteis para a instalação e chegam em 2. Instalam tudo que tenho direito. Navego como um criança, fazendo downloads a quase 2mb/s.

Eis que a Oi ressurge do quinto dos infernos. Como? Cobrando o período após o cancelamento.

Nem precisei olhar na lista pra me lembrar o número deles. Disco 103 14, sem saudosismo algum. Ouço toda aquela balela e consigo falar com um ser humano. A moça verifica o tal sistema e percebe que realmente foi feito um cancelamento, embora não tenha sido efetuado. Ela diz que mandará uma cobrança apenas com o período relativo. Essa nova fatura, claro, nunca chega.

O que chega é a fatura do mês seguinte. Perco todo o meu horário de almoço conversando com o operador X, explicando toda nossa história. Ele verifica o sistema, e encontra apenas o pedido de urgência de instalação, de mais de dois meses atrás. O que ele pode fazer é cancelar agora, mas que aquelas faturas devem ser pagas. Peço um pente-fino. Após 7 minutos esperando, com a comida esfriando na mesa, a ligação cai.

Disco 103 14. Ouço todo aquele ritual demoníaco e consigo falar com um ser humano. Tal ser revira a tumba, digo, o sistema, e não encontra absolutamente nada. Me pede o protocolo** do cancelamento. Revira mais um pouco o sistema. Meu almoço agora é das moscas. A ligação cai.

-Oi!? Oi???

TU TU TU.

Hoje, 09/08/2010, mais de dois meses após a mudança, a história parece estar apenas começando. Procon, Anatel, vara da família? Quem pode fazer justiça?

*Sistema da Oi: Alguém me explica como pode um sistema de computador sem tão sem memória e estupidamente lento? Os pedidos de instalação e cancelamento simplesmente desaparecem, e pra verificarem qualquer coisa, leva dezenas de minutos. Não seria simples simplesmente terem um cadastro com meu número e tudo relacionado a ele? Será que cada informação está numa página completamente diferente? E por que sai tanto do ar? A conexão deles deve ser Oi, só pode.

**Protocolo: Vacinado com os esquecimentos da Oi, aprendi a anotar os protocolos. Acontece que, talvez por falta de HD, além da falta de memória do sistema, aquelas centenas de números que a gente anota não servem pra nada. Eles nunca levam  a lugar nenhum, e você ainda precisa ouvir o atendente dizer que provavelmente você anotou errado ou a operação foi concluída. Então, jogo os números inválidos fora.



A empresa se gaba de não ter contrato de fidelidade, mas além de não prestarem os serviços oferecidos, simplesmente ignoram pedidos de cancelamento. É um verdadeiro pacto com o diabo.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Zeus é gay que eu sei. Desvendando a mitologia por meio da músicasertaneja moderna.

Freela da madrugada. Títulos, textos, tópicos. Entre um pensamento e outro, me veio à cabeça a canção Meteoro. Aquela mesmo, que gruda, irrita e propaga na voz do menino-prodígio-pop-sertanejo Luan Santana.

Só que dessa vez a balada me veio bradando significados diversos e variados. Será que Sorocaba, da filosófica dupla Fernando e Sorocaba, pensou mesmo tudo isto quando sentou e riscou no guardanapo sujo de batom a letra da canção?

Vamos à análise:

"Te dei o sol, te dei o mar/ Pra ganhar seu coração".

O eu lírico apaixonado só pode ser megalomaníaco ou bilionário. Ignorando o fato de que seja um ricaço que capricha também nas hipérboles e metáforas, o sujeito se crê um deus, ou realmente o é. E tão poderoso a ponto de conceder à sua amada duas das maiores preciosidades do universo, sob o ponto de vista da mitologia grega ele só pode ser Zeus.

Mesmo que contrarie Apolo, deus do Sol, e Poseidon, deus do Mar, o velho barbudo soberano do Monte Olimpo tá podendo, e parece disposto a tudo pra conquistar sua amada.

"Você é raio de saudade/ Meteoro da paixão"

Já na segunda estrofe, Sorocaba nos revela o objeto de desejo de seu eu lírico. Não se trata de uma mortal, muito menos de uma mulher. Quem despertou o tesão colossal de Zeus, foi ningém menos que Thor, o mais alto e forte entre os deuses. Dono do martelo Mjolnir, só ele é capaz de disparar raios, que quando atingem a terra, o fazem com a força de um meteoro.

"Explosão de sentimentos / Que eu não pude acreditar / Ah! Como é bom poder te amar"

Esse trecho é a prova que o amor foi consumado. E pelo plural que se segue após a gozada metáfora "explosão", é possível notar a total libertinagem dos envolvidos, se alternando seguidamente na estabelecida relação homossexual de suserania e vassalagem.  Conscientes desde o início dos tempos do papel de Macho Alfa que representavam, eles próprios duvidavam que tal relação seria possível e, pelo que parece, agradável. O ato é encerrado mostrando que não foi algo casual, pelo menos para Zeus. Ele acredita piamente no amor de Thor.

"Depois que eu te conheci fui mais feliz / Você é exatamente o que eu sempre quis"

Parece menos conflituoso para Zeus amar um outro deus, do que simplesmente descer pra terra e pegar uma mortal. Provavelmente por questões morais peculiares do Olimpo, seja realmente mais fácil aceitar uma relação gay do que o amor entre deuses e seres não abençoados com a vida eterna. E entre os mortais, Zeus não encontraria todos aqueles predicados. Ou seja, ele está realizado física e moralmente.

"Ela se encaixa perfeitamente em mim / O nosso quebra-cabeça teve fim"

Com longas madeixas loiras, asas de plumas brancas e um martelinho dourado, Thor é, aos olhos de Zeus, um ser feminino, por isso o gênero no início da frase. Já um quebra-cabeça, todos sabem que é feito de encaixes, deixando claro nesse ponto, mais uma vez, que a relação física supera a sentimental. Mas o importante para Zeus e Thor, é que, pelo visto, suas peças se encontraram.

"Se for sonho não me acorde / Eu preciso flutuar"

Apesar de ser o deus dos deuses, figura central do Olimpo, o momento de Zeus é tão pleno que ele se sente num sonho. Cansado de liderar os pelotões divinos com sua espada solitária, ele sente que agora terá uma parceria, literalmente eterna. Assim, ele se sente ainda mais acima de tudo, flutuando de maneira real e emocional.

"Pois só quem sonha / Consegue alcançar"

Aqui ele nos dá a prova de seus poderes ilimitados, que transformam sonho em realidade. Paralelamente, nosso majestoso eu lírico encarna os ideais românticos, se mostrando há tempos, provavelmente desde o início do universo, apaixonado por Thor. Agora, finalmente, consegue se realizar.

"Tão veloz quanto a luz / Pelo universo eu viajei / Vem me guia me conduz /Que pra sempre te amarei"

Eis o esperado final feliz, pelo menos pra eles, em que é possível notar a arrogância da dupla reinante e imortal. Enquanto eles passeiam serelepes de mãos dadas pelas galáxias, Prometeu segue acorrentado, tendo as vísceras eternamente devoradas por um abutre, simplesmente por ter concedido fogo à humanidade. Não é à toa que o Olimpo está em ruínas.

Esse final nos permite tirar uma série de lições de moral. Mas deixo pra vocês, afinal cada um só aprende o que quer mesmo.

domingo, 31 de janeiro de 2010

Do caos ao...

Você se recicla. Busca novas idéias, faz cursos, passa horas a fio lapidando suas palavras. Você consegue uma cadeira mais macia, um salário melhor e mais respeito. Você alcança reconhecimento profissional, sucesso, e muito mais dinheiro. Mas, cá entre nós, você não se encontra. Isso é clichê, piegas, senso comum, e todas aquelas coisas que as grandes ideias parecem.

Parece Déjà vu. Parece que você precisa. Parece não, é uma certeza. E você precisa fazer isso agora. Antes que o mundo pese sobre seus ombros. Antes que você vire gente de verdade.

Certo, você já nasceu gente. Se acha mais gente que muita gente. Mas você não é. Nem mais, nem menos.

Essa foi uma introdução caótica para um projeto de paz e satisfação.

Após alguns anos praticamente sem férias, trabalhando 8 horas ou mais por dia, fazendo propaganda, falando de propaganda com todo mundo que fala sobre, escrevendo sobre propaganda neste blog, vivendo propaganda há mais de 8 anos, decidi fazer uma pausa. Não porque o número 8 deitado seja o infinito, mas porque pensar é preciso. E antes que essa possibilidade de pensar não seja mais uma opção, acelerei.

Posso me arrepender de dizer isto, principalmente se quiser voltar a trabalhar na área, mas o fato é que a publicidade tem me embrulhado o estômago. Cada dia chega mais gente querendo criar, escrever, layoutar, atender e planejar propaganda. E 70% são profissionais medíocres, querendo se juntar a um mundo de gente leiga ocupando postos importantes na nossa "indústria".

Saí da faculdade movido a novidades, com sede de inovação, aflito por mais conhecimento, por técnicas mais eficazes de redação publicitária, por ideias realmente vendedoras. E me deparei com um mercado caquético, subnutrido. As empresas querem coisas novas, querem superar a concorrência, e as agências querem ajudar. Mas, apesar, todavia, entretanto, a mão nem tão invisível da ignorância que se acha demais, interpela o novo.

Gente que diz fazer, acontecer, twittar e enlouquecer, faz mais vender a si próprio do que um planejamento que tenda ao palpável, ao rentável.

Se não conseguem inovar, que façamos como nossos antepassados: ilustrações belas, com textos explicativos lindamente escritos. Façamos o bom e velho Alltype. Mas sem forçar modismos inatingíveis, sem passar rasteira na qualidade, sem ultrapassar a fronteira da ética e do bom gosto. Aqui no blog há muito tempo exponho e crítico tal tendência. Mas o nó é muito mais embaixo. Ler este desabafo pode te ajudar a compreender.

Por isso estou pulando fora. Não digo que não voltarei. Talvez volte pilhado, ligado e motivado. Simplesmente vidrado em fazer propaganda de qualidade. Talvez volte pensando em enveredar pra novas áreas dentro da publicidade, do marketing e da comunicação em geral. Talvez volte para trabalhar com RH, ou com um projeto audacioso para vender camarão na Praia do Futuro. Talvez eu nem volte.

Mas afinal, pra onde eu vou?

http://voltaremosvivos.blogspot.com/


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sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

O pior BANCO DO BRASIL

Certo dia precisei escolher um banco. Um tinha a logomarca mais bonita, outro fazia lindos comerciais e outros disputavam pra ver quem oferecia as menores taxas e as maiores vantagens aos clientes. Optei por aquele que tinha mais agências, mais caixas eletrônicos e aparentava ser mais honesto.

Me dirigi à agência mais próxima do meu trabalho, a fim de criar minha conta. Coincidentemente, era a agência central do banco em todo o país, em pleno Setor Bancário Sul, em Brasília. Ampla como nenhuma outra, está sob o edifício sede banco. Em posse de todos os documentos imagináveis, consegui ser mais um correntista daquela respeitada instituição. Nem me importei com o crédito baixo oferecido, inferior ao de toda a concorrência, nem com seu site que então era o mais feio e menos funcional do mercado.

Começava aí uma terrível jornada de desapontamentos e frustrações.

Capítulo 1. A fila infernal.
Acontece que pessoas precisam pagar contas, e, para isso, precisam utilizar seu banco. E nem sempre os caixas eletrônicos resolvem. Então conheci minha primeira fila quilométrica e estática naquele lugar. Passei mais de uma hora esperando minha honrosa vez de falar com a moça do caixa, para ela me informar que não poderia fazer nada pois o sistema acabara de sair do ar.

Superei, mas pensei: preciso de uma senha para acessar essa p*&¨% desse banco pela internet. E como tudo naquele lugar, isso seria uma epopéia. Tal senha não se cria ou sai automaticamente num caixa eletrônico, muito menos no próprio site. Era preciso pegar mais um fila. Dessa vez, daquela em que aguardamos sentados. Conhecendo a rapidez da escassa estrutura humana local, protelei, até que foi realmente necessário enfrentar a fila.

Capítulo 2. Uma tarde de 4 horas e 47 segundos.
Avisei no trabalho que iria no banco à tarde, criar uma senha para acessar o site. Quando chego, poucas pessoas aguardam nas cadeirinhas, lindamente colocadas ali na era JK, imagino. Era meio de mês, e a fila do "caixa do dinheiro" também estava curta. Cerca de 4 atendentes em suas mesinhas. Tudo conspirava a favor. Mas naquele banco, nada é simples. Sem exagero, sem hipérbole, sem nenhuma figura de linguagem superlativa, passei a tarde inteira naquela desg$&*@ de banco. MAIS DE 4 HORAS.

Não consigo entender o que um ser-humano da raça correntista conversa com um bancário por mais de 1 hora. E como o sujeito funcionário daquele lugar não resolve logo o problema alheio. Ou, se não consegue, por que não chuta aquele estorvo dali. Enfim. Depois das 4 horas ali, deixando trabalhos acumularem no escritório, me sento com a moça. Duas instruções e 47 segundos depois, minha senha estava criada.

Capítulo 3. Como fazer o cliente de idiota.
Precisava fazer uma transferência internacional, e o mais recomendado era utilizar a Western Union. Algumas pequenas empresas privadas locais podem fazer isso, mas por ter as melhores taxas, e por ser o MEU BANCO, mais uma vez precisei atravessar as portas giratórias do inferno. Afinal, tal instituição diz para os clientes que é "TODO SEU".

Pesquisei as agências que teriam a possibilidade de realizar a tarefa. Uma delas, localizada bem ao lado do meu então posto de trabalho. Fui até lá, e pelo histórico de raivas passadas com aquele banco, preferi não arriscar horas de fila e acabar dando com os burros n'água. Interpelei um atendente, que me orientou a procurar a agência central do banco, no Setor Bancário Sul. Ou seja, a agência sede da instituição e da minha querida conta, já com 3 anos de vida.

Depois de 15 minutos no sol africano de janeiro, consegui estacionar. Para não me decepcionar após horas de fila (a das cadeirinhas, que estavam lotadas), mais um vez interpelei um atendente. As palavras dele soaram como um solo de viola do Almir Sater nos meus ouvidos:

-Sim, nós fazemos transferência pela Western Union. E é justamente comigo, e pelo que vejo, minha fila está vazia, você nem precisa pegar senha.

Conhecendo aquele caral%& de banco, tentei não me empolgar. A transferência seria feita diretamente da minha conta, nem sacar seria necessário. Quando o atendente verifica meus dados para então enviar o capital, a então bucólica viola que amaciava minha alma tem todas as cordas desafinadamente arrebentadas:

-Senhor, seus dados estão desatualizados. Assim não é possível fazer a remessa.

-Então atualize, por favor. Digo eu, já com uma gota de suor amargo brotando da testa,

-Por sorte essa é a SUA AGÊNCIA. Basta se dirigir a um dos atendentes ao lado, portando comprovantes atualizados de endereço e de renda. Não esqueça de colocar suas orelhas de ASNO enquanto agurada atendimento.

Essa última frase não foi com essas palavras, mas os termos pomposos utilizados significavam exatamente isso. Disse que meu endereço continuava o mesmo, que o trabalho mudara, mas a profissão era a mesma, se aquilo era tão necessário, se ele mesmo não poderia alterar, que eu passava verbalmente os novos dados pra ele, que era urgente, que ninguém tinha me avisado de nada, nunca.

Enfim. Segui para uma empresa infinitamente menor e menos conhecida, em que nunca tive cadastro, que nunca me viram, que não sabem onde moro ou quanto dinheiro tenho ou deixo de ter. Sem problema para estacionar, sem senha e sem fila, em 3 minutos a operação estava feita.

Capítulo 4. Ponto pra você, dinheiro para os cofres.
Depois de tanto tempo como correntista, sempre utilizando os cartões do banco, acumulei pontos que poderiam ser trocados por milhas. Todo feliz, resolvi fazer minha primeira transferência para o programa SMILES. Todos fazem isso há milhões de anos, sem problemas, sem taxas, sem dor de cabeça.

FIZ!

Eis que chega a fatura do cartão de crédito: "TRASNF. PROGR. PONTOS - R$ 20,00". Que taxa é essa? Quem me avisou que era vinte reais pra fazer isso que todo mundo faz de graça todo dia?? Eles têm o direito de cobrar, mas custa avisar!??

Tentei ligar, mas, pra variar, minha senha do telefone (que necessariamente deve ser diferente da senha dos caixas eletrônicos e do site) estava bloqueada. E claro, isso só fui descobrir após 7 minutos ouvindo gravações sobre promoções e serviços daquela majestosa instituição público-privada, ou seria PRIVADA PÚBLICA?

Já que na "ouvidoria" também não encontrei seres humanos, me utilizei da senha do site (aquela da odisséia de 4 horas e 47 segundos), fiz meu login e encontrei uma área de reclamações, sugestões ou elogios. Duvido que alguém já tenha usado esse última opção. Enviei meu recado, indagado do porquê daquele cobrança.

No dia seguinte um funcionário me liga. Castigada, minha alma nem ouviu solos de viola. A moça do outro lado da linha se apresentou e simpaticamente perguntou se era minha a queixa. Confirmei. Ela justifica dizendo que é uma cobrança "nova", e que realmente até algumas semanas o serviço era gratuito. Digo que pelo menos deveria ser avisado antes ou durante a transação. Ela, ainda mais simpática:

-É verdade, não é descrito em lugar nenhum. Eu mesma transferi meus pontos e só depois chegou uma cobrança, que eu realmente não sabia. Mas está publicado em algum lugar/edital/documento do banco...

Certo, agora devemos ler cada letra miúda de documentos escondidos sabe-se lá onde.

Mas o que deveríamos, todos nós correntistas acorrentados aos espinhos venenosos desse banco, era guardar nosso dinheiro embaixo de colchões podres e comidos por pulgas, que ainda assim seria mais digno que usar esse maldito BANCO DOS IDIOTAS.