Certo dia precisei escolher um banco. Um tinha a logomarca mais bonita, outro fazia lindos comerciais e outros disputavam pra ver quem oferecia as menores taxas e as maiores vantagens aos clientes. Optei por aquele que tinha mais agências, mais caixas eletrônicos e aparentava ser mais honesto.
Me dirigi à agência mais próxima do meu trabalho, a fim de criar minha conta. Coincidentemente, era a agência central do banco em todo o país, em pleno
Setor Bancário Sul, em Brasília. Ampla como nenhuma outra, está sob o edifício sede banco. Em posse de todos os documentos imagináveis, consegui ser mais um correntista daquela respeitada instituição. Nem me importei com o crédito baixo oferecido, inferior ao de toda a concorrência, nem com seu site que então era o mais feio e menos funcional do mercado.
Começava aí uma terrível jornada de desapontamentos e frustrações.
Capítulo 1. A fila infernal.Acontece que pessoas precisam pagar contas, e, para isso, precisam utilizar seu banco. E nem sempre os caixas eletrônicos resolvem. Então conheci minha primeira fila quilométrica e estática naquele lugar. Passei mais de uma hora esperando minha honrosa vez de falar com a
moça do caixa, para ela me informar que não poderia fazer nada pois o sistema acabara de sair do ar.
Superei, mas pensei: preciso de uma senha para acessar essa p*&¨% desse banco pela internet. E como tudo naquele lugar, isso seria uma
epopéia. Tal senha não se cria ou sai automaticamente num caixa eletrônico, muito menos no próprio site. Era preciso pegar mais um fila. Dessa vez, daquela em que aguardamos sentados. Conhecendo a rapidez da escassa estrutura humana local, protelei, até que foi realmente necessário enfrentar a fila.
Capítulo 2. Uma tarde de 4 horas e 47 segundos.Avisei no trabalho que iria no banco à tarde, criar uma senha para acessar o site. Quando chego, poucas pessoas aguardam nas cadeirinhas, lindamente colocadas ali na
era JK, imagino. Era meio de mês, e a fila do "caixa do dinheiro" também estava curta. Cerca de 4 atendentes em suas mesinhas. Tudo conspirava a favor. Mas naquele banco, nada é simples. Sem exagero, sem
hipérbole, sem nenhuma
figura de linguagem superlativa, passei a tarde inteira naquela desg$&*@ de banco. MAIS DE 4 HORAS.
Não consigo entender o que um ser-humano da
raça correntista conversa com um bancário por mais de 1 hora. E como o sujeito funcionário daquele lugar não resolve logo o problema alheio. Ou, se não consegue, por que não chuta aquele estorvo dali. Enfim. Depois das 4 horas ali, deixando trabalhos acumularem no escritório, me sento com a moça. Duas instruções e 47 segundos depois, minha senha estava criada.
Capítulo 3. Como fazer o cliente de idiota.Precisava fazer uma
transferência internacional, e o mais recomendado era utilizar a
Western Union. Algumas pequenas empresas privadas locais podem fazer isso, mas por ter as melhores taxas, e por ser o MEU BANCO, mais uma vez precisei atravessar as portas giratórias do inferno. Afinal, tal instituição diz para os clientes que é "TODO SEU".
Pesquisei as agências que teriam a possibilidade de realizar a tarefa. Uma delas, localizada bem ao lado do meu então posto de trabalho. Fui até lá, e pelo
histórico de raivas passadas com aquele banco, preferi não arriscar horas de fila e acabar dando com os burros n'água. Interpelei um atendente, que me orientou a procurar a agência central do banco, no Setor Bancário Sul. Ou seja, a agência sede da instituição e da minha querida conta, já com 3 anos de vida.
Depois de 15 minutos no
sol africano de janeiro, consegui estacionar. Para não me decepcionar após horas de fila (a das cadeirinhas, que estavam lotadas), mais um vez interpelei um atendente. As palavras dele soaram como um solo de viola do
Almir Sater nos meus ouvidos:
-Sim, nós fazemos transferência pela Western Union. E é justamente comigo, e pelo que vejo, minha fila está vazia, você nem precisa pegar senha.
Conhecendo aquele
caral%& de banco, tentei não me empolgar. A transferência seria feita diretamente da minha conta, nem sacar seria necessário. Quando o atendente verifica meus dados para então enviar o capital, a então bucólica viola que amaciava minha alma tem todas as cordas desafinadamente arrebentadas:
-Senhor, seus dados estão desatualizados. Assim não é possível fazer a remessa.
-Então atualize, por favor. Digo eu, já com uma gota de
suor amargo brotando da testa,
-Por sorte essa é a SUA AGÊNCIA. Basta se dirigir a um dos atendentes ao lado, portando comprovantes atualizados de endereço e de renda. Não esqueça de colocar suas orelhas de ASNO enquanto agurada atendimento.
Essa última frase não foi com essas palavras, mas os termos pomposos utilizados significavam exatamente isso. Disse que meu endereço continuava o mesmo, que o trabalho mudara, mas a
profissão era a mesma, se aquilo era tão necessário, se ele mesmo não poderia alterar, que eu passava verbalmente os novos dados pra ele, que era urgente, que ninguém tinha me avisado de nada, nunca.
Enfim. Segui para uma empresa infinitamente menor e menos conhecida, em que nunca tive cadastro, que nunca me viram, que não sabem onde moro ou quanto dinheiro tenho ou deixo de ter. Sem problema para estacionar,
sem senha e sem fila, em
3 minutos a operação estava feita.
Capítulo 4. Ponto pra você, dinheiro para os cofres.Depois de tanto tempo como correntista, sempre utilizando os cartões do banco, acumulei pontos que poderiam ser trocados por milhas. Todo feliz, resolvi fazer minha primeira transferência para o programa SMILES. Todos fazem isso há
milhões de anos, sem problemas, sem taxas, sem dor de cabeça.
FIZ!
Eis que chega a fatura do cartão de crédito: "TRASNF. PROGR. PONTOS - R$ 20,00". Que taxa é essa? Quem me avisou que era vinte reais pra fazer isso que todo mundo faz de graça todo dia?? Eles têm o direito de cobrar, mas custa avisar!??
Tentei ligar, mas, pra variar, minha senha do telefone (que necessariamente deve ser diferente da senha dos caixas eletrônicos e do site) estava bloqueada. E claro, isso só fui descobrir após
7 minutos ouvindo gravações sobre promoções e serviços daquela majestosa instituição público-privada, ou seria PRIVADA PÚBLICA?
Já que na "ouvidoria" também não encontrei
seres humanos, me utilizei da senha do site (aquela da odisséia de 4 horas e 47 segundos), fiz meu login e encontrei uma área de reclamações, sugestões ou elogios. Duvido que alguém já tenha usado esse última opção. Enviei meu recado, indagado do porquê daquele cobrança.
No dia seguinte um funcionário me liga.
Castigada, minha alma nem ouviu solos de viola. A moça do outro lado da
linha se apresentou e simpaticamente perguntou se era minha a queixa. Confirmei. Ela justifica dizendo que é uma cobrança "nova", e que realmente até algumas semanas o serviço era gratuito. Digo que pelo menos deveria ser avisado antes ou durante a transação. Ela, ainda mais
simpática:
-É verdade, não é descrito em lugar nenhum. Eu mesma transferi meus pontos e só depois chegou uma cobrança, que eu realmente não sabia. Mas está publicado em algum lugar/edital/documento do banco...
Certo, agora devemos ler cada letra miúda de documentos escondidos sabe-se lá onde.
Mas o que deveríamos, todos nós correntistas acorrentados aos espinhos venenosos desse banco, era guardar nosso dinheiro embaixo de colchões podres e comidos por pulgas, que ainda assim seria mais digno que usar esse maldito
BANCO DOS IDIOTAS.