domingo, 31 de janeiro de 2010

Do caos ao...

Você se recicla. Busca novas idéias, faz cursos, passa horas a fio lapidando suas palavras. Você consegue uma cadeira mais macia, um salário melhor e mais respeito. Você alcança reconhecimento profissional, sucesso, e muito mais dinheiro. Mas, cá entre nós, você não se encontra. Isso é clichê, piegas, senso comum, e todas aquelas coisas que as grandes ideias parecem.

Parece Déjà vu. Parece que você precisa. Parece não, é uma certeza. E você precisa fazer isso agora. Antes que o mundo pese sobre seus ombros. Antes que você vire gente de verdade.

Certo, você já nasceu gente. Se acha mais gente que muita gente. Mas você não é. Nem mais, nem menos.

Essa foi uma introdução caótica para um projeto de paz e satisfação.

Após alguns anos praticamente sem férias, trabalhando 8 horas ou mais por dia, fazendo propaganda, falando de propaganda com todo mundo que fala sobre, escrevendo sobre propaganda neste blog, vivendo propaganda há mais de 8 anos, decidi fazer uma pausa. Não porque o número 8 deitado seja o infinito, mas porque pensar é preciso. E antes que essa possibilidade de pensar não seja mais uma opção, acelerei.

Posso me arrepender de dizer isto, principalmente se quiser voltar a trabalhar na área, mas o fato é que a publicidade tem me embrulhado o estômago. Cada dia chega mais gente querendo criar, escrever, layoutar, atender e planejar propaganda. E 70% são profissionais medíocres, querendo se juntar a um mundo de gente leiga ocupando postos importantes na nossa "indústria".

Saí da faculdade movido a novidades, com sede de inovação, aflito por mais conhecimento, por técnicas mais eficazes de redação publicitária, por ideias realmente vendedoras. E me deparei com um mercado caquético, subnutrido. As empresas querem coisas novas, querem superar a concorrência, e as agências querem ajudar. Mas, apesar, todavia, entretanto, a mão nem tão invisível da ignorância que se acha demais, interpela o novo.

Gente que diz fazer, acontecer, twittar e enlouquecer, faz mais vender a si próprio do que um planejamento que tenda ao palpável, ao rentável.

Se não conseguem inovar, que façamos como nossos antepassados: ilustrações belas, com textos explicativos lindamente escritos. Façamos o bom e velho Alltype. Mas sem forçar modismos inatingíveis, sem passar rasteira na qualidade, sem ultrapassar a fronteira da ética e do bom gosto. Aqui no blog há muito tempo exponho e crítico tal tendência. Mas o nó é muito mais embaixo. Ler este desabafo pode te ajudar a compreender.

Por isso estou pulando fora. Não digo que não voltarei. Talvez volte pilhado, ligado e motivado. Simplesmente vidrado em fazer propaganda de qualidade. Talvez volte pensando em enveredar pra novas áreas dentro da publicidade, do marketing e da comunicação em geral. Talvez volte para trabalhar com RH, ou com um projeto audacioso para vender camarão na Praia do Futuro. Talvez eu nem volte.

Mas afinal, pra onde eu vou?

http://voltaremosvivos.blogspot.com/


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sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

O pior BANCO DO BRASIL

Certo dia precisei escolher um banco. Um tinha a logomarca mais bonita, outro fazia lindos comerciais e outros disputavam pra ver quem oferecia as menores taxas e as maiores vantagens aos clientes. Optei por aquele que tinha mais agências, mais caixas eletrônicos e aparentava ser mais honesto.

Me dirigi à agência mais próxima do meu trabalho, a fim de criar minha conta. Coincidentemente, era a agência central do banco em todo o país, em pleno Setor Bancário Sul, em Brasília. Ampla como nenhuma outra, está sob o edifício sede banco. Em posse de todos os documentos imagináveis, consegui ser mais um correntista daquela respeitada instituição. Nem me importei com o crédito baixo oferecido, inferior ao de toda a concorrência, nem com seu site que então era o mais feio e menos funcional do mercado.

Começava aí uma terrível jornada de desapontamentos e frustrações.

Capítulo 1. A fila infernal.
Acontece que pessoas precisam pagar contas, e, para isso, precisam utilizar seu banco. E nem sempre os caixas eletrônicos resolvem. Então conheci minha primeira fila quilométrica e estática naquele lugar. Passei mais de uma hora esperando minha honrosa vez de falar com a moça do caixa, para ela me informar que não poderia fazer nada pois o sistema acabara de sair do ar.

Superei, mas pensei: preciso de uma senha para acessar essa p*&¨% desse banco pela internet. E como tudo naquele lugar, isso seria uma epopéia. Tal senha não se cria ou sai automaticamente num caixa eletrônico, muito menos no próprio site. Era preciso pegar mais um fila. Dessa vez, daquela em que aguardamos sentados. Conhecendo a rapidez da escassa estrutura humana local, protelei, até que foi realmente necessário enfrentar a fila.

Capítulo 2. Uma tarde de 4 horas e 47 segundos.
Avisei no trabalho que iria no banco à tarde, criar uma senha para acessar o site. Quando chego, poucas pessoas aguardam nas cadeirinhas, lindamente colocadas ali na era JK, imagino. Era meio de mês, e a fila do "caixa do dinheiro" também estava curta. Cerca de 4 atendentes em suas mesinhas. Tudo conspirava a favor. Mas naquele banco, nada é simples. Sem exagero, sem hipérbole, sem nenhuma figura de linguagem superlativa, passei a tarde inteira naquela desg$&*@ de banco. MAIS DE 4 HORAS.

Não consigo entender o que um ser-humano da raça correntista conversa com um bancário por mais de 1 hora. E como o sujeito funcionário daquele lugar não resolve logo o problema alheio. Ou, se não consegue, por que não chuta aquele estorvo dali. Enfim. Depois das 4 horas ali, deixando trabalhos acumularem no escritório, me sento com a moça. Duas instruções e 47 segundos depois, minha senha estava criada.

Capítulo 3. Como fazer o cliente de idiota.
Precisava fazer uma transferência internacional, e o mais recomendado era utilizar a Western Union. Algumas pequenas empresas privadas locais podem fazer isso, mas por ter as melhores taxas, e por ser o MEU BANCO, mais uma vez precisei atravessar as portas giratórias do inferno. Afinal, tal instituição diz para os clientes que é "TODO SEU".

Pesquisei as agências que teriam a possibilidade de realizar a tarefa. Uma delas, localizada bem ao lado do meu então posto de trabalho. Fui até lá, e pelo histórico de raivas passadas com aquele banco, preferi não arriscar horas de fila e acabar dando com os burros n'água. Interpelei um atendente, que me orientou a procurar a agência central do banco, no Setor Bancário Sul. Ou seja, a agência sede da instituição e da minha querida conta, já com 3 anos de vida.

Depois de 15 minutos no sol africano de janeiro, consegui estacionar. Para não me decepcionar após horas de fila (a das cadeirinhas, que estavam lotadas), mais um vez interpelei um atendente. As palavras dele soaram como um solo de viola do Almir Sater nos meus ouvidos:

-Sim, nós fazemos transferência pela Western Union. E é justamente comigo, e pelo que vejo, minha fila está vazia, você nem precisa pegar senha.

Conhecendo aquele caral%& de banco, tentei não me empolgar. A transferência seria feita diretamente da minha conta, nem sacar seria necessário. Quando o atendente verifica meus dados para então enviar o capital, a então bucólica viola que amaciava minha alma tem todas as cordas desafinadamente arrebentadas:

-Senhor, seus dados estão desatualizados. Assim não é possível fazer a remessa.

-Então atualize, por favor. Digo eu, já com uma gota de suor amargo brotando da testa,

-Por sorte essa é a SUA AGÊNCIA. Basta se dirigir a um dos atendentes ao lado, portando comprovantes atualizados de endereço e de renda. Não esqueça de colocar suas orelhas de ASNO enquanto agurada atendimento.

Essa última frase não foi com essas palavras, mas os termos pomposos utilizados significavam exatamente isso. Disse que meu endereço continuava o mesmo, que o trabalho mudara, mas a profissão era a mesma, se aquilo era tão necessário, se ele mesmo não poderia alterar, que eu passava verbalmente os novos dados pra ele, que era urgente, que ninguém tinha me avisado de nada, nunca.

Enfim. Segui para uma empresa infinitamente menor e menos conhecida, em que nunca tive cadastro, que nunca me viram, que não sabem onde moro ou quanto dinheiro tenho ou deixo de ter. Sem problema para estacionar, sem senha e sem fila, em 3 minutos a operação estava feita.

Capítulo 4. Ponto pra você, dinheiro para os cofres.
Depois de tanto tempo como correntista, sempre utilizando os cartões do banco, acumulei pontos que poderiam ser trocados por milhas. Todo feliz, resolvi fazer minha primeira transferência para o programa SMILES. Todos fazem isso há milhões de anos, sem problemas, sem taxas, sem dor de cabeça.

FIZ!

Eis que chega a fatura do cartão de crédito: "TRASNF. PROGR. PONTOS - R$ 20,00". Que taxa é essa? Quem me avisou que era vinte reais pra fazer isso que todo mundo faz de graça todo dia?? Eles têm o direito de cobrar, mas custa avisar!??

Tentei ligar, mas, pra variar, minha senha do telefone (que necessariamente deve ser diferente da senha dos caixas eletrônicos e do site) estava bloqueada. E claro, isso só fui descobrir após 7 minutos ouvindo gravações sobre promoções e serviços daquela majestosa instituição público-privada, ou seria PRIVADA PÚBLICA?

Já que na "ouvidoria" também não encontrei seres humanos, me utilizei da senha do site (aquela da odisséia de 4 horas e 47 segundos), fiz meu login e encontrei uma área de reclamações, sugestões ou elogios. Duvido que alguém já tenha usado esse última opção. Enviei meu recado, indagado do porquê daquele cobrança.

No dia seguinte um funcionário me liga. Castigada, minha alma nem ouviu solos de viola. A moça do outro lado da linha se apresentou e simpaticamente perguntou se era minha a queixa. Confirmei. Ela justifica dizendo que é uma cobrança "nova", e que realmente até algumas semanas o serviço era gratuito. Digo que pelo menos deveria ser avisado antes ou durante a transação. Ela, ainda mais simpática:

-É verdade, não é descrito em lugar nenhum. Eu mesma transferi meus pontos e só depois chegou uma cobrança, que eu realmente não sabia. Mas está publicado em algum lugar/edital/documento do banco...

Certo, agora devemos ler cada letra miúda de documentos escondidos sabe-se lá onde.

Mas o que deveríamos, todos nós correntistas acorrentados aos espinhos venenosos desse banco, era guardar nosso dinheiro embaixo de colchões podres e comidos por pulgas, que ainda assim seria mais digno que usar esse maldito BANCO DOS IDIOTAS.